Atentados à
moral pública sempre existiram, mas o conceito foi mudando com os tempos. O
caso da pedofilia é um exemplo, durante anos foi um tabu social e as vítimas
silenciadas ou desacreditadas. A violência doméstica idem, as mulheres envergonhadamente
levavam tareias consecutivas vivendo o pânico permanente da chegada do
facínora, que num acto de valentia descarregava as frustrações no elo mais
fraco.
Também na
defesa dos animais a moral pública sofreu um progresso irrefutável. Os maus
tratos passaram a ser alvo de repúdio geral e criminalmente puníveis.
A sociedade
foi progredindo na defesa dos mais frágeis e indefesos, mas está muito longe de
padrões que façam da moral pública um adversário temível. Vejamos 3 factos
relacionados com o vil metal, que ajudam a perceber.
O estoiro do
BES, que afinal era conhecido de alguns há mais de 1 ano, foi resultado de uma
sequência de vigarices de uma família muito "in" da linha de Cascais,
que virou pé rapado e sem quaisquer escrúpulos arrasou um imenso património
histórico e financeiro. Esse golpe deu cabo da vida de muita gente, mas os responsáveis
continuam impunes e com fortunas no exterior.A PT foi vítima desse assalto e hoje vê o seu prestigiado espólio pelas ruas da amargura.
Esta semana
também foi sabido que o figurão que substituiu o Dr. Barroso na Comissão da UE,
enquanto foi 1º ministro do Luxemburgo fez acordos secretos com multinacionais
americanas e europeias, para não pagarem os impostos devidos. Uma espécie de
promoção fiscal, as sedes das empresas eram deslocadas para o Luxemburgo e em
troca o Sr. Juncker dava uns bónus colossais. O seu país era um dos mais ricos
do mundo, através do sugar dos impostos dos outros. Disse o artista que não foi
ele que fez as leis do país, mas reconhece que as aplicou. Que grande
ilusionista e mistificador este cavalheiro. Como a dignidade varia na razão
inversa do cargo, disse que não se demite e promete combater os Junckers da
Europa para acabar com esses favorecimentos. De pasmar, mas foi tal e qual.
Cá dentro,
quinta-feira directores de policias, quadros superiores do Estado e do Governo
e mais algumas pérolas, foram detidas por tráfico de influências,
branqueamentos, favorecimentos, peculato e mais não se sabe o quê, relacionados
com os vistos que o Dr. Portas inventou e que lhes chamou Gold. Boa designação,
são realmente Gold para alguns, não se sabe ainda de quantos quilates e quantos
os dislates.
Lá vão os
advogados do costume encher os bolsos com esta cáfila de oportunistas.
Praticamente
em 3 meses, uma sucessão de escândalos a deixar o Zé de boca aberta, como se
estivesse no dentista.
Mas nem tudo
é negativo, a liberdade de imprensa permitiu desmascarar o Sr. Junckers e expor
em detalhe o descalabro da família Espírito Santo.
São muitas
vezes as denúncias da imprensa, baseadas em jornalismo de investigação, que
antecedem as acções policiais e da Justiça. Esse é realmente o único poder que
pode combater a perfídia dos outros poderes. Sem uma comunicação social livre e
responsável, a sociedade está sem defesa perante os usos e abusos dos poderes
estabelecidos, seja na política, finanças ou na própria Justiça. A moral
pública é aliada da comunicação social e esta só pode ser livre, se não
depender de grupos ou poderes.
Muitos dos
beneficiários da imoralidade até podem continuar ricos, mas perderam o bem
maior, o de poderem usufruir em paz e sossego e de poderem tomar uma bica no
meio do povo.
jr/nov/14
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