Não se consegue vislumbrar saída para a situação
que se vive em alguns países europeus e muito particularmente naqueles que já
eram frágeis quando eram donos da sua moeda e muito mais agora que não podem
imprimir notas. A Grécia e Portugal são claramente exemplos de sociedades à
deriva, sem outra estratégia para além da de cortar despesa pública e impor
medidas de austeridade com o único fito de continuar a receber empréstimos que
lhes permitam pagar outros empréstimos. Como disse Juan Millás, num artigo
sensacional no “El Pais”, é a economia financeira
a subjugar a economia real.
A engenharia financeira do mundo capitalista
sofisticou de tal forma os produtos do seu negócio, que criou uns monstros que
manipulam a economia real a seu bel-prazer. Os denominados futuros e derivados,
sem estar a aprofundar demasiado a matéria, são produtos bolsistas que
consistem na negociação de contratos de mercadorias cujas produções em muitos
casos ainda nem sequer arrancaram. Comprar e vender no dia de hoje títulos
representativos do trigo que será colhido no próximo ano, ou do preço dos
metais daqui a 6 meses, são perfeitamente possíveis nos mercados financeiros. A
economia financeira a servir-se da economia real apenas como meio de materialização
de um negócio, sem qualquer preocupação construtiva do mesmo. Por outras palavras, é como um totobola gigantesco,
em que o apostador sem sequer ter visto um jogo, ou perceber minimamente de
futebol, pode ficar rico sem nada ter contribuído para o desfecho dos
resultados, mas beneficiando deles. É a economia financeira a aproveitar-se da
economia real (trabalho diário dos jogadores + direcção técnica + gestão do
clube + trabalho dos árbitros, etc.). O jogo serve apenas como justificativo
para a aposta do capital.
Para complicar o quadro de sofisticação, a economia
financeira tem produtos em que se pode ganhar com a queda dos preços – posições
curtas-, o que significa que há aplicações que quanto mais cair o preço, mais o
investidor ganha. Parece impossível, mas assim é. O leitor para melhor compreender
o que se diz, pode vender acções do BPI sem as ter (como se as pedisse
emprestadas a alguém), por um determinado preço e comprá-las mais tarde a um
preço inferior (devolvendo-as a quem as emprestou). Ganha pois com a queda do activo.
Tudo isto para dizer que a economia financeira
utiliza meios colossais, com um poder abusivo de influenciar o curso da economia real.
Na financeira estão poucos com muito, na real
muitos com pouco .Como disse Millá e bem, a semente do trigo que o agricultor de um
qualquer país vai lançar à terra, já serviu para que a colheita fosse negociada
numa das grandes bolsas internacionais. Até que o trigo chegue ao celeiro, já
muitas transacções de compra e venda foram sendo especuladas à espera daquele
momento. Acumulações colossais de capital foram sendo processadas, enquanto o
tempo se encarregava de maturar aquele bem essencial.
A economia financeira foi a grande responsável da
crise em que submergimos, não tem qualquer outro objectivo senão maximizar o
lucro, nem que para isso tenha de arrasar economias reais de milhões de
pessoas, deslocalizando os capitais para onde haja sangue fresco. É o vampirismo
capitalista, apenas com a diferença de atacar dia e noite.
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