-JORNALISMO DE ANTECIPAÇÃO ONLINE juliusrimante@sapo.pt-Fundado em 03/07/2008-Director: Toni Roma-Porto-Portugal(-A notícia antes da ocorrência-)
ECONOMIA FINANCEIRA VS. ECONOMIA REAL
Não se consegue vislumbrar saída para a situação
que se vive em alguns países europeus e muito particularmente naqueles que já
eram frágeis quando eram donos da sua moeda e muito mais agora que não podem
imprimir notas. A Grécia e Portugal são claramente exemplos de sociedades à
deriva, sem outra estratégia para além da de cortar despesa pública e impor
medidas de austeridade com o único fito de continuar a receber empréstimos que
lhes permitam pagar outros empréstimos. Como disse Juan Millás, num artigo
sensacional no “El Pais”, é a economia financeira
a subjugar a economia real.
A engenharia financeira do mundo capitalista
sofisticou de tal forma os produtos do seu negócio, que criou uns monstros que
manipulam a economia real a seu bel-prazer. Os denominados futuros e derivados,
sem estar a aprofundar demasiado a matéria, são produtos bolsistas que
consistem na negociação de contratos de mercadorias cujas produções em muitos
casos ainda nem sequer arrancaram. Comprar e vender no dia de hoje títulos
representativos do trigo que será colhido no próximo ano, ou do preço dos
metais daqui a 6 meses, são perfeitamente possíveis nos mercados financeiros. A
economia financeira a servir-se da economia real apenas como meio de materialização
de um negócio, sem qualquer preocupação construtiva do mesmo. Por outras palavras, é como um totobola gigantesco,
em que o apostador sem sequer ter visto um jogo, ou perceber minimamente de
futebol, pode ficar rico sem nada ter contribuído para o desfecho dos
resultados, mas beneficiando deles. É a economia financeira a aproveitar-se da
economia real (trabalho diário dos jogadores + direcção técnica + gestão do
clube + trabalho dos árbitros, etc.). O jogo serve apenas como justificativo
para a aposta do capital.
Para complicar o quadro de sofisticação, a economia
financeira tem produtos em que se pode ganhar com a queda dos preços – posições
curtas-, o que significa que há aplicações que quanto mais cair o preço, mais o
investidor ganha. Parece impossível, mas assim é. O leitor para melhor compreender
o que se diz, pode vender acções do BPI sem as ter (como se as pedisse
emprestadas a alguém), por um determinado preço e comprá-las mais tarde a um
preço inferior (devolvendo-as a quem as emprestou). Ganha pois com a queda do activo.
Tudo isto para dizer que a economia financeira
utiliza meios colossais, com um poder abusivo de influenciar o curso da economia real.
Na financeira estão poucos com muito, na real
muitos com pouco .Como disse Millá e bem, a semente do trigo que o agricultor de um
qualquer país vai lançar à terra, já serviu para que a colheita fosse negociada
numa das grandes bolsas internacionais. Até que o trigo chegue ao celeiro, já
muitas transacções de compra e venda foram sendo especuladas à espera daquele
momento. Acumulações colossais de capital foram sendo processadas, enquanto o
tempo se encarregava de maturar aquele bem essencial.
A economia financeira foi a grande responsável da
crise em que submergimos, não tem qualquer outro objectivo senão maximizar o
lucro, nem que para isso tenha de arrasar economias reais de milhões de
pessoas, deslocalizando os capitais para onde haja sangue fresco. É o vampirismo
capitalista, apenas com a diferença de atacar dia e noite.
CLIENTES EM APUROS
A Alemanha nunca
deixará cair o euro, o problema é que demorou tanto tempo para abrir os cordões
à bolsa que vai-lhe sair mais caro…muito mais caro.
Os alemães são a
seguir à China os maiores exportadores do planeta, com uma população de cerca
de 80 milhões, domina económica e financeiramente um aglomerado de 500 milhões
que é a U.E. Mesmo numa época de crise que parece devastar os países do sul, a Alemanha
aumentou as exportações em mais de 7 % no passado mês de Junho, comparado com o mesmo mês do ano anterior. Dos cerca de 95 mil milhões de euros de negócio com o exterior,
54 mil milhões foram para outros países da União Europeia, portanto mais de 55 %.
Os parceiros atrapalhados são os melhores clientes dos alemães. A crise é
vizinha do lado, mas os germânicos sabem (75 %) que o apagão do euro,
implicaria uma recessão de 10 % na economia alemã e uma taxa de desemprego a
triplicar a actual.
A crise
controlada serve às mil maravilhas a estratégia alemã: enfraquecimento da
concorrência através das subida das taxas de juro que tiram competitividade ao preço dos produtos;
menor custo do financiamento da dívida pública (taxa negativa) que advém da
incerteza nos países em dificuldade; debilidade do euro que torna as
exportações alemãs mais apetecíveis e por fim mas não menos importante, a hegemonia
sobre o maior bloco comercial do mundo.
A ambição já
matou muitas galinhas de ovos de ouro e o esticar da corda sobre os países em
dificuldade, com austeridades sucessivas para travar subitamente o que os
alemães durante anos alimentaram e incentivaram aos seus clientes: o aumento do
endividamento externo e um virar de costas aos crescentes défices públicos e
não é preciso ir mais longe, basta lembrar a bonomia da Sra. Merkel com o Eng.º
Sócrates, -excelente cliente dos produtos da Baviera-, sem que se lhe
conhecesse qualquer chamada de atenção em tempo útil sobre os défices
excessivos, caso contrário ter-se-ia oposto à venda dos submarinos a Portugal,
mas dizíamos nós, que a ambição poderá acabar numa derrocada geral, caso a
Alemanha não abra os cordões à bolsa, o que naturalmente não vai acontecer,
pois a 12 de Setembro o Tribunal Constitucional Alemão deverá aprovar o MEE-Mecanismo
Europeu de Estabilidade, instrumento considerado fundamental para evitar
maiores danos na fragilizada economia da zona euro.
A clientela está
em apuros e o fornecedor tem de apoiar, caso contrário vai ter de vender para
outras bandas, mas parece pouco provável a compensação de uma perda tão importante
do mercado.
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