#SEXUALIDADE SEM TABUS







Foi com muito agrado que acolhi o anúncio da abertura de uma casa emblemática à literatura e particularmente aos nossos poetas que prestigiaram a poesia erótica. 
Não posso deixar de me associar a tão rico evento, transcrevendo alguns sonetos de Bocage, que influenciaram a minha juventude e me acicataram para enveredar pela minha actividade. Espero que se deliciem e não faço mais comentários.

SONETO DE TODOS OS CORNOS
Não lamentes, Alcino, o teu estado,
Corno tem sido muita gente boa;
Cornissimos fidalgos tem Lisboa,
Milhões de vezes cornos teem reinado.

Sicheu foi corno, e corno de um soldado:
Marco Antonio por corno perdeu c'roa;
Amphitryão com toda a sua proa
Na Fabula não passa por honrado;

Um rei Fernando foi cabrão famoso
(Segundo a antiga lettra da gazeta)
E entre mil cornos expirou vaidoso;

Tudo no mundo está sujeito à greta:
Não fiques mais, Alcino, duvidoso,
Pois isto de ser corno é tudo peta.


SONETO DO VELHO ESCANDALOSO
Tu, ó demente velho descarado,
Escandalo do sexo masculino,
Que por alta justiça do Destino
Tens o impotente membro deceppado!


Tu, que, em torpe furor incendiado
Soffres d'impia paixão ardor maligno, [ímpia]
E a consorte gentil, de que és indigno,
Entregas a infructifero castrado!

Tu, que tendo bebido o menstruo immundo,
Esse amor indiscreto te não gasta
D'impia mulher o orgulho furibundo! [ímpia]

Em castigo do vicio, que te arrasta,
Saiba a inclita Lysia, e todo o mundo
Que és vil por genio, que és cabrão, e basta.



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