O Dr. Salgado acedeu a uma entrevista em exclusivo ao JULIUS, que apresentaremos na edição de fim-de-semana na versão paper, mas de que extraímos alguns pontos interessantes.
J- Dr. Salgado, ainda
parece um pesadelo o fim do BES. 150 anos arrasados num fim de semana…passou de
melhor banco a BAD BANK.
S-A
quem o diz, ainda não percebi o que se passou e estou convicto que foi tudo uma
cabala do grande capital, para derrubar o único banco popular que mais apoiava
as empresas e as famílias. O nosso exemplo era paradigmático, a nossa família
sempre pôde contar com o BES para todas as acções de investimento e não só,
fosse em Portugal ou no mundo.
J- Mas os peritos dizem
que essa foi a razão do colapso, a exposição do BES ao GES…
S-
Exposição? Mas que exposição? Os quadros que o BES tinha estavam nos gabinetes
de administradores e nas agências. Nunca houve exposições organizadas pelo BES.
Sempre deixamos isso para os especialistas de arte.
J- A Rio Forte entrou em
incumprimento, bem como outras holdings e isso abalou os mercados…
S-
Isso foi o argumento do grande capital para destruir uma instituição sólida que
estava ao serviço dos trabalhadores, das classes mais desfavorecidas e dos
oprimidos. Nós fomos sempre contra o capitalismo selvagem e 80 % do BES era de
pequenos investidores. A política do banco era emprestar o que tem e o que não
tem, desde que se viesse a ter. Nesta fase do processo e ainda por razões
relacionadas com a crise de 1929, passávamos por algumas dificuldades, que não
nego, mas para as quais já tínhamos soluções que fariam do BES um banco ainda
mais sólido e resistente.
J- Que soluções eram
essas?
S-
Tínhamos já um plano de reconstrução dos balcões e da própria sede em granito,
com cantaria de artistas de nomeada. Os revestimentos que seriam aplicados são
do que melhor se conhece no mundo. A solidez do banco seria reforçada com
infra-estruturas em betão armado e aço inoxidável.
J- O Banco de Portugal foi favorável?
S-
O BP e as auditoras foram favoráveis a tudo que propusemos desde 1911, só no
fatídico fim-de-semana resolveu com as outras instituições abutres, acabar com
o BES e usurpar aos trabalhadores e às classes desfavorecidas o seu banco. Foi
um PREC ao contrário. O grande capital atacou o Estado Social no seu coração e
esfrangalhou o banco do grande poder popular. Aliás como sabe, BES é a sigla de
BANCO do ESTADO SOCIAL. A verdadeira história desta pilhagem ainda está por
contar.
J- Então toda a informação
que tem vindo a ser conhecida, é manipulada?
S-
Claramente, veja o que aconteceu depois da pilhagem, já são duas as
administrações em cerca de 1 mês. Eles não sabem o que é administrar um banco
do povo e para o povo. O GES- Grande Estado Social, era um risco para os
poderes do grande capital. A família ES- Espírito Santo e o ES- Estado Social
eram siglas que se confundiam e perturbavam os senhores do dinheiro. A gestão
de topo era coesa, aparte uns primos que tinham Espírito Santo no meio do nome,
mas era eu que comandava
com mão de ferro toda a estrutura democrática.
J- Já foi recebido pelo
Governador depois de ter deixado o BES?
S-Não
fui nem quero. Não quero nada com aquela gente. Um banco que na semana anterior
tinha almofadas para tudo e mais alguma coisa, segundo o que ele afirmou, na
semana seguinte não tinha nem um lençol? Desapareceu aquele dinheiro todo como?
J- Foram as imparidades,
por empréstimos do BES a empresas do GES falidas…
S-
Mas o que é isso de imparidades? Então e as paridades? Sim as paridades, só
viram os números ímpares e o dinheiro que estava nos números pares ninguém fez
contas? Havia muitos clientes que eram por exemplo o número 1200, 1202, 1204 e
por aí fora. Só viram os ímpares porque lhes interessou. Acabaram com o BES por
causa dos ímpares. O grande capital não olha a meios, usa todas as armas para
atingir os objectivos.
J- Segundo foi público
pediu auxílio ao Governo…
S-
Não foi bem auxílio, foi o apoio para uma emissão especial de raspadinhas com prémios
aliciantes, que colocaríamos no mercado em Setembro. O Governo entendeu que não
era o momento, se fosse em 2015 poderíamos contar inclusive com uma grande
subscrição pública.
J- Isso complicou?
S-
Complicou muito, pois já tínhamos compromissos com os fornecedores dos prémios.
(O
JULIUS publicará a entrevista na íntegra na edição paper do próximo fim-de-semana.)
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