Salgado
reúne secretamente a família numa cave de um edifício nos Restauradores que não
se sabe se é do banco velho ou do novo, mas de que ele ainda conserva a chave.
São
cerca de 5.000 e à entrada tiveram de pronunciar a senha: “quem sois?”- “Sou santo” e “para onde ides?” - ” Para os espíritos”.
Estavam todos encapuçados. O Julius entrou camufladamente…
Salgado
deu as boas vindas, mas a plateia não esteve pelos ajustes e respondeu com
batatas, cebolas, ovos, coturnos rotos, sapatos, soutiens e até uma galinha foi
parar ao palco em que estava o patriarca com o fiel Morais.
“-Eu sei que o momento não é dos
melhores…mas…”. -palavras
balbuciadas por RS-.
-“Mas?” -interrompe um encapuçado da 1ª fila-, “Qual mas? Estamos falidos e de rastos.
Tentei mudar o nome no notário e fui parar ao hospital, pois a empregada é
accionista. No hospital ninguém me quis coser a cabeça, médicos e enfermeiros
foram ao aumento de capital. Foi nos Enfermeiros Reunidos que me coseram, mas
tive de pagar adiantado. Foi ao que chegamos por tua causa”.
Uma
tia do fundo grita….” Tu Ricardo saíste pior
que a encomenda. Para onde foi o dinheiro que o banco emprestou? Dizem que foi
para o grupo, mas eu só recebi aquele cabaz de natal. Quem é o grupo?”
“- Tio isto é horrível, estou a
ser enxovalhado no Frágil e em outros bares da comunidade, que me recusam a entrada
e aos meus acompanhantes com o argumento de que ponho má fama à casa. Apenas no
Cais do Sodré me abrem a porta, porque dizem ser
bares de embarcadiços e estes não
sabem o
que se passa. É horrível, estou
uma lástima,
não vivo, cu-existo, nada mais…que
horror ao
que chegamos tio.”
Um
cidadão já de idade, com uma bengala de prata em tom rouco pergunta a Salgado:
-“ Eu sempre disse que tu nunca
devias estar nesse lugar, és muito novo e inexperiente. Um banqueiro só o é a
partir dos 80, antes disso é um empregado bancário. Nunca passaste disso e aqui
está o resultado. A casa faliu e agora é quem mais corre a mudar o nome. Eu por
mim já deixei de ser ES quando tu foste para o lugar, passei a ser apenas o Santos”.
Salgado
está lívido e vê-se o medo no olhar. A família está pior que o Banco de
Portugal e ele não sabe que dizer. O objectivo era explicar os últimos
acontecimentos, mas o clima não lhe dá margem de manobra.
Morais
tenta pôr água na fervura, mas mal põe os braços no ar a pedir silêncio, leva
com uma enxurrada de objectos e dejectos, que o deixam num estado deplorável.
Até Salgado deita a mão ao nariz, para amenizar a pestilência. A reunião entra
num impasse, com o GES em descontrolo total, há cenas de pugilato na plateia
entre apoiantes e críticos de RS. Algumas senhoras envolvem-se em cenas
degradantes, com perucas a voar pela cave. Chegamos a ver placas e implantes a
cair perto de nós. O ambiente atinge o clímax e o caos apossa-se do GES. Eis
que irrompe uma pomba branca pela sala dentro…
- “Vejam…”, grita Ricardo….”Milagre…o Espírito Santo veio-nos abençoar…”
- “Olha…olha….” A frase é unânime e em uníssono todos
gritam “milagre…milagre…o Espírito Santo ressuscitou
e está de volta…” Todos se ajoelham, enquanto a pomba dá um raide e sai
pela janela por onde tinha entrado.
A
pomba dos Restauradores resolveu o que parecia impossível. Salgado sai
glorificado E com a incumbência de mandar erigir a “Capelinha das Alminhas do
GES”. Fica marcada uma romagem no dia 1 de cada mês, a data fatídica em que as
forças diabólicas se juntaram para esmagar o GES
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