Assisti a grande parte do “reality show”, que foi a sessão
parlamentar sobre a moção de censura do PS, portanto está feita a confidência,
apesar de não abonar à reputação de um cidadão.
O Parlamento é à partida a jóia da democracia, ou pelo menos
deveria ser. Ao ver estes debates em plenário, dúvidas primárias assolam-nos o
espírito: qual o critério dos partidos para a escolha dos deputados? para quê
tantos, se só 15 ou 20 dizem qualquer coisa e geralmente repetindo o que o
outro disse antes?
Outro detalhe, levam
os discursos no papel ou na cabeça e não se ouvem uns aos outros. Sempre que
fala um de determinado partido, os opositores conversam entre si ou agarram os
ipads e os jornais e não ligam patavina ao que os colegas dizem. As televisões
nestas coisas são implacáveis e mostram à saciedade o desinteresse e o clima de
chacota entre os diversos intervenientes. Um diz qualquer coisa que seja e
parece um jogo de ténis nas bancadas dos contrários, todos abanam a cabeça numa
rejeição colectiva. Na bancada do que discursa, o efeito é o oposto, tudo diz
que sim mais convictos que um noivo no dia do casamento e o movimento das
cabeças faz lembrar as orações frente ao muro das lamentações.
Posto isto, foi assim
que interpretamos a ocorrência:
A moção do PS foi um erro de casting. Sem conteúdo, sem
estratégia, sem táctica, sem tribunos, sem brilho… enfim sem nada. Muitos dos
responsáveis do descalabro das contas públicas sentavam-se na parte de cima da
bancada e ouviu-se apenas um para tentar defender a honra. Esquisito, um
deputado que enquanto secretário de Estado e na opinião do Tribunal de Contas, foi
responsável por firmar contratos ruinosos para o país, veio agora defender a
honra. O secretário-geral é um homem simpático, cordato e educado, mas coitado,
foi bombardeado pelas perguntas dos opositores, que encurralaram o promotor da moção
e de caçador passou a caçado. A Dra. Maria Belém à direita do Dr. Seguro,
parecia uma dona de casa que ganhou num sorteio o direito a assistir em directo
a um debate parlamentar. Olhava para o Dr. Seguro com aquele ar de quem queria
ajudar, mas não percebia nada do que se estava a discutir. À esquerda o Dr.
Seguro tem sempre o Dr. Zorrinho, faz lembrar o treinador do Porto a insistir
no Varela. Há quem diga que com ele o Porto joga com 10 e o Dr. Zorrinho
segue-lhe as pisadas.
Moral da história, um desconchavo. O PS não é um espectador
da situação do país, é um dos actores principais das causas e não está
apetrechado para governar. A aura de Sócrates vagueia por aquela bancada, como
uma nuvem daquelas que no Paraíso transportam anjinhos a tocar harpa e flauta.
Escolheu mal o momento e pior que isso, não se preparou para um exame que
marcou. Foi chumbada a moção e foi chumbado o partido.
A maioria de direita foi muito mais eficaz e disparou
perguntas em série ao Dr. Seguro. Este atónito respondia, sem perceber que desfocou
o debate para uma querela partidária e libertando o Governo de embaraços.
Ninguém na bancada do PS teve o discernimento de o ajudar nesse momento
decisivo e lá se perdeu ele em explicações se concordava ou não concordava,
sobre situações óbvias.
A maioria que também está ligada à situação do país pelos
efeitos, que se já viu serem devastadores, nem precisou de muita arte para
repelir as balas de chocolate que o Dr. Seguro foi atirando, limitando-se a
evidenciar a infantilidade da proposta.
No entanto uma intervenção foi relevante e valeu pelo seu
elevado nível. O Ministro das Finanças descreveu com grande simplicidade e
clareza as razões pelas quais Portugal chegou à situação em que nos
encontramos.
Goste-se ou não se goste e eu não gosto, o Dr. Gaspar é um
economista sério e tecnicamente competente. O que disse é irrefutável, Portugal
nos últimos 15 anos foi o país que menos crescimento teve na zona euro, metade
da média europeia e a opção de se endividar permanentemente para financiar o
betão e os interesses particulares, trouxe-nos até aqui. Não é um político, isso
já se percebeu e não tem no Governo direcção política, pois o Dr. Passos é uma
cópia de Seguro e não está à altura de liderar o país no momento que vivemos. O
Governo exauriu-se e já não tem margem de manobra para impedir o 2º resgate,
mas isso ocorre não pela emoção da censura, ocorre pela inépcia e obsessão por
medidas que amenizaram a gripe, mas destroçaram o coração.
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