Quando espreitamos da
janela de um avião a sensação que se tem é única e a vista, sim a vista, é
aquela que mais se deve aproximar da do dia derradeiro, em que a alma se separa
do invólucro, tipo fuga de gás a caminho do paraíso!!!
A imagem do exterior para
quem deixa este mundo a caminho da felicidade eterna - isto evidentemente se a
folha do cidadão apresentar créditos suficientes- deve ser parecida com esta
que podemos ver a 36.000 pés de altitude. Olhar para baixo e ver aglomerados urbanos
enormes com milhões de habitantes, reduzidos a um tamanho tão pequenino, que ajuda
a reflectir sobre a nossa dimensão e importância. É como pairar sobre o que acontece
e nada termos a ver com isso. Tipo ETS a espionar a vida terrestre.
O que ocorre naqueles
aglomerados a que pertencemos quando a trip terminar, está para além da
fantasia, no entanto vistos a muitos pés de altitude parecem imóveis,
silenciosos, calmos. Passar por Madrid ou Paris a 40.000 pés de altitude é como
apontar o dedo a uma cascata de S. João e só perceptível se o comandante do
avião avisar os passageiros de que estamos a passar por lá.
Visto de cima tudo parece
desabitado, é demasiado longe para se captar o que quer que seja para além de
contornos e a magnificência do mar.
Em baixo as pessoas fervilham
numa vida frenética, como as formigas no seu leva e traz, só que de cima não se
vê nada; nem a cor, nem a religião, se estão em crise ou em abastança, é tipo
GPS, que indica as ruas, mas nada do que lá se passa…
Quando se voa está-se
isolado do mundo, trata-se de uma interrupção que só se restabelece quando
chegamos à sala de desembarque no destino.
Só no ar se vive essa
sensação, não é o nosso meio, somos uma espécie de intrusos num espaço que não
nos é familiar. O mar e a terra fazem parte de nós, o ar não, tem muito de
Universo, de mítico, de Deus e de outros residentes para além de nós, tem o
fascínio e o medo do desconhecido. Quem viaja, preocupa-se a sério com a
manutenção nos aviões e os detalhes que inspirem desconfiança.
Num avião há sempre tensão
latente, no levantar, no aterrar, na turbulência e em tudo aquilo que põe a nu
a nossa completa incapacidade perante o imprevisto.
Há valentes em pé firme,
que no ar tremem e rezam.
O ar não é do homem, ainda
que por lá se mostre, o ar é do Supremo e por isso impõe respeito e temor.
O ar (espaço) é o que liga
o Universo, os aviões são táxis de pequenos percursos, mas que mesmo assim nos
ajudam a compreender que não passamos de microorganismos numa imensidão
absoluta.
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