A ACRISE



O JULIUS inicia hoje um inquérito direccionado a reputadas personalidades nacionais de várias áreas do conhecimento e da economia, que tem como objectivo a recolha de opiniões e eventuais soluções para a crise que assola Portugal.
Começamos por abordar um conhecido empresário nortenho de sucesso, o “marchand” David Estaline, que se dedica à produção e comercialização de obras de arte dos séculos V e VI AC, que amavelmente nos recebeu e prontamente respondeu às perguntas que preparamos.

-Crise…essa palavra que hoje é a mais pronunciada no dia-a-dia dos portugueses, o que lhe suscita?
-Sus quê?
- Suscita…
- Não gosto de comida japonesa, sei que o sushita é muito apreciado, mas sou adepto da comida portuguesa.
-??? E sobre a crise, o que pensa?
-Ora bem, sobre a Cris eu sei muito pouco, sou casado e há muito tempo que não sei do paradeiro da moça. De qualquer forma a Cris era uma rapariga que sabia o que queria…e não era pau para toda a colher…ou colher para todo o pau…não me lembro bem como se diz o advérbio…
- Eng.º não se trata da Cris, mas da crise…
-Ah acrise? bem isso é diferente, acrise que é uma palavra com 6 letras…
- Desculpe com 5…
- Em Nine a gente diz acrise tudo junto e não separa o “a” da crise e muito bem, pois acrise não é apenas feminina, abrange todos os sexos e idades. O meu negócio como disse muito bem na nota tradutória desta conversa, é a produção e comercialização de peças originais dos seculos V e VI de AC, mas a concorrência chinesa e dos países de leste, está a provocar uma razia sem paralelos…
 -Perdeu competitividade?
- Não isso não perdemos, temos perdido é vendas…
- Mas a perda de vendas resulta da perda de competitividade?
- Não, eu acho que não, até porque não houve nenhum cliente que se queixasse da perda do que quer que fosse das peças que exportamos: cavalos, estátuas do Moisés, do Abraão, do Sansão e Dalila. Também são muito apreciadas as estatuetas do David e Golias e aqui realmente por vezes há problemas, porque do Golias só fazemos a cabeça e algumas desaparecem, mas é costume mandarmos cabeças a mais…
-Mas a que atribui a perda de mercado?
- Deve-se à acrise, pois os países dos mercados de emergência fabricam tudo muito mais barato e não respeitam a História. Já recebemos peças da concorrência que são um atentado: A Dalila com o David, o Sansão com o Golias, o Abrão com óculos de sol e o Hércules em poses indecorosas. Já nos queixamos às autoridades sobre a anarquia que graça por esse mundo fora…usam e abusam da electrónica e as peças de grande valor arqueológico andam, falam, dão biracus, etc., o que não tem nada a haver com o respeito que deviam merecer figuras tão importantes da História Universal. A acrise só poderá ser ultrapassada com um rigoroso controlo internacional da qualidade e impor restrições ao livre comércio com quem não cumprir.
-Mas o Eng.º já fez algum downsizing?
- Não ainda não, já temos os desenhos das peças, mas ainda não foram para produção por causa das cores. Temos de afinar bem para que não desbotem com o calor…
- Perguntávamos se já reduziu à mão de obra?
- Não. Temos feito um grande esforço para não despedir ninguém, com o recurso ao capital que poupamos durante anos.
- Quantos colaboradores tem a Estaline & Associados?
- 1 sou só eu…
Ficamos por aqui…

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