-JORNALISMO DE ANTECIPAÇÃO ONLINE juliusrimante@sapo.pt-Fundado em 03/07/2008-Director: Toni Roma-Porto-Portugal(-A notícia antes da ocorrência-)
OS CASEIROS
No Expresso online no blogue “A
tempo e a desmodo”, Henrique Raposo o seu radactor, num artigo intitulado “ A crise dos jornais diários e a Carrossel”,
descreve muito bem o que se passa na imprensa diária. Realmente há muito pouco
para ler, os diários não têm reportagens com “foro literário”, na generalidade
limitam-se a ser correias de transmissão da Lusa (agência de notícias).Diz o articulista e bem, que os
jornalistas passam a vida no “lero-lero”
das redes sociais, na tentativa de acorrerem a tudo que é “caso do dia”. Aconselha
e também bem, que a revista gratuita Carrossel é uma boa alternativa à pobreza
franciscana que paira nos diários.Posto isto, restam-nos alguns semanários
e revistas, que sem a azáfama do dia-a-dia, oferecem matérias tratadas com
profundidade e profissionalismo. Da leitura de fim-de-semana, uma amiga arguta,
encontrou no Expresso o motivo deste post. Não se trata de artigo de fundo
sobre política, economia, religião, ou meramente social, mas curiosamente nas
cerca de 12 linhas contempla tudo.Não foi no caderno principal, nem
no de Economia, nem na Revista, ou no suplemento Actual, foi exactamente na
secção anúncios.Atente no seu conteúdo, antes de
prosseguir.Leu?Pois bem, “2 caseiros” de 50 anos
sem filhos, pré-falidos (mas sem dívidas), elegantes e com boa presença, não
fumadores, procuram trabalho com alojamento.O curriculum é invejável,
formação musical e desportiva, aptidão para barcos de recreio, conhecimentos de
gastronomia, ex-atleta e ex-empresário (ele), formação pré-universitária e
fluência em várias línguas. Moram (ainda) em Cascais. Nível moral, educação
e saber estar inquestionáveis. O casal tem experiência de chefia. Aceitam
deslocar-se para qualquer parte do país e estrangeiro.Finalizam com o esclarecimento de
que apesar de possuírem a humildade para servir, não dispõem de conhecimentos
adequados para actividades rurais ou similares.Notável o anúncio, seja ele
carregado de ironia, ou de sofrimento latente. Vou mais pela segunda hipótese,
pois o telefone pessoal é a forma de contacto escolhido pelos “caseiros”.É uma situação limite, assumida
com “british style”, mas nem por isso menos devastadora. Como dizia tem de
tudo. Política, pois foi um casal que provavelmente chegou a este ponto com o "empurrãozinho" dos poderes, seja o de antes, seja o de agora. A economia está
bem presente, ex-empresário e ambos com experiência
de chefia, faz pensar que algo correu mal no negócio dos caseiros. A religião
ainda que subtilmente, parece contida no “nível
Moral, com elevadíssima educação e saber estar” e finalmente o social, que
é o aglomerado de todos os outros, mas sustentado na apresentação inicial: “elegantes e com muito boa presença”.
A vida das pessoas que antes eram
da classe média tem sido um suplício, é este “departamento” que o Estado tem
assaltado sem misericórdia, pois os abastados, apesar de comparticiparem,
rapidamente se ajustaram e estão mais ricos, em número e valor.A maioria silenciosa, sejam
pequenos e médios empresários, funcionários públicos, privados e médios pensionistas,
é triturada por uma política que pretende reduzir o consumo privado a um nível
inconcebível, com evidente repercussão na criação de emprego e na manutenção
dos que restam.A fobia do regresso aos mercados,
em condições que são apresentadas como libertadoras, não passa de uma quimera
que só é possível ser apreendida pela desorientação da informação e contra-informação, que por cá reinam.Os caseiros abanam, mas ainda não
caíram, porém a vida está condizente com o nome da terra: Bicuda.
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